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Entre inovação e tradicional, a diversidade na Feira da Agricultura Familiar

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De Santa Clara do Sul, a Franz Alimentos apresenta a farinha de batata doce
De Santa Clara do Sul, a Franz Alimentos apresenta a farinha de batata doce - Foto: Karine Viana/Palácio Piratini
Por Rodrigo Martins/SDR

Todo o ano, o público busca avidamente as novidades no pavilhão da Agricultura Familiar na Expointer, coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo. E não sai decepcionado. O crescimento do espaço e o aumento no número de agroindústrias – mais de 7 mil metros quadrados de área construída e 285 expositores - é acompanhado pelo lançamento de produtos. Dentre centenas de alternativas oferecidas, na praça de alimentação e nos estandes, selecionamos cinco: cuca de vinho, farinha de batata doce, chopp orgânico, sementes agroecológicas e sementes crioulas.

O produtor rural Anderson Ávila Horning, 29 anos, veio de Paverama, da região do Vale do Taquari. A novidade da banca 208, da Agroindústria Horning, onde trabalham seis pessoas, é a cuca de vinho. “Depois que lançamos, no ano passado, a cuca de chocolate ao rum, o pessoal vinha pedindo algo diferente com a uva”, explica Anderson. “Criamos a cuca de vinho e a cuca de churros, receitas nossas. Fizemos um creme de vinho tinto e colocamos nas cucas”, contou.

A receita agradou. E também com o aumento de fluxo de público no pavilhão, as vendas aumentaram. Mais de 2,8 mil cucas foram comercializadas entre sábado e a última quinta-feira, com valores entre R$ 8 e R$ 10. Por vários dias, os produtos já tinham acabado no meio da tarde, e pessoal da Horning teve de correr para buscar estoque.

Cuca de vinho foi uma das novidades no estande da da Agroindústria Horning, de Paverama
Cuca de vinho foi uma das novidades no estande da da Agroindústria Horning, de Paverama - Foto: Dyessica Abadi/Palácio Piratini

Farinha de batata doce

De Santa Clara do Sul, a Franz Alimentos apresenta a farinha de batata doce. “Fizemos pesquisas para produzir um alimento mais saudável e constatamos que a batata doce é boa para saúde, para diabetes e gastrite”, esclarece Daniel Franz, 33, sócio e filho do proprietário da Franz Alimentos. “Então criamos a farinha de batata doce, que é utilizada para fazer bolos, pães, massa de panqueca, colocar em batidas, misturar com frutas”, esclarece Daniel Franz, 33 anos, sócio e filho do proprietário da Franz Alimentos. A farinha é vendida em envelopes de alumínio - que garante maior conservação ao alimento - com 120 e 500 gramas. Envelope de 120 gramas custa R$ 7. A banca 170 também vende salgadinhos de batata doce e aipim a R$ 5. Durante a feira, Daniel afirma que comercializam, na média, 10 caixas de salgadinhos por dia.

Chope orgânico

Ricardo Fritsch, da Cervejaria SteinHaus, aposta no conceito de cervejaria sustentável
Ricardo Fritsch, da Cervejaria SteinHaus, aposta no conceito de cervejaria sustentável - Foto: Dyessica Abadi/palácio Piratini

Já a Cervejaria SteinHaus aposta no slogan “A primeira cervejaria do Brasil 100% orgânica e sustentável”. Os empreendedores são de Picada Café, município de 4,5 mil habitantes a 80 quilômetros de Porto Alegre. “Estruturamos a cooperativa e, em novembro de 2015, lançamos a primeira cerveja orgânica. Neste projeto, produzimos os grãos, a cevada, o trigo, a aveia, o centeio. Com isto, temos um projeto local e sustentável”, afirma o agricultor Ricardo Fritsch, 45 anos, criador da fórmula da bebida.

A cooperativa ligada à cervejaria envolve quatro famílias, gerando emprego e renda diretamente para 15 pessoas na região. O principal mercado da SteinHaus é a região sudeste do Brasil, principalmente, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A cervejaria artesanal participa do Pavilhão da Agricultura Familiar desde 2012, vendendo cerveja e chope orgânico, com valores entre R$ 10 e R$ 15. Localizada na praça de alimentação, a banca comercializa uma média de 300 litros de chope por dia.

Sementes crioulas

Outra novidade que tem atraído crescente atenção do público são as sementes agroecológicas e as sementes crioulas. “A produção de semente agroecológicas foi uma iniciativa de pequenos agricultores nos municípios de Candiota e Hulha Negra. No projeto, o agricultor produz as sementes em um sistema agroecológico, diferente do modelo de produção baseados nos químicos e sintéticos”, conta Elias Santos da Silva, 26 anos, formando em Agronomia, na banca 263, da cooperativa Bionatur.

Completando 20 anos de atividade, a Bionatur, de Candiota, tem mais de 200 sócios, com a produção baseada nos assentamentos da reforma agrária nas regiões sul, campanha gaúcha e Missões. Atualmente, também está ampliando a produção para Minas Gerais, Distrito Federal, São Paulo e Paraná, em um trabalho em rede que envolve agricultores familiares, pesquisadores, agrônomos, técnicos rurais e instituições. A experiência da Bionatur conta com apoio da Conab, Emater, Embrapa, UFPel e outras estaduais.

“Quando o agricultor familiar e o próprio viveirista querem garantir que toda a cadeia de produção seja orgânica, ele necessita destas sementes. A proposta visa garantir que as famílias permaneçam no campo, produzindo alimento saudável”, complementa Elias.

No estande, as sementes agroecológicas são vendidas em sachês a R$ 2, onde também é possível adquirir camisetas e bonés da cooperativa. Durante a feira, são comercializados cerca de 400 sachês por dia.

Culturas antigas

De Maquiné, Amilton Fernando Munari trabalha para preservar sementes nativas do Rio Grande do Sul
De Maquiné, Amilton Fernando Munari trabalha para preservar sementes nativas do Rio Grande do Sul - Foto: Karine Viana/Palácio Piratini
Se a cooperativa Bionatur trata de dezenas de espécies – hortaliças, grãos e forrageiras mais conhecidas como abobrinha, tomate, cebola, repolho e milho – a Associação Içara, na banca 54, se preocupa e trabalha com centenas de espécies de sementes crioulas. Cúrcuma, pitaia, girassol, gengibre, araruta, cará-da-terra, fáfia, amendoim, tremoço, fava, aipim, feijões variados... Um amplo espectro da biodiversidade.

“A semente crioula é a semente antiga – milenares dos indígenas e centenárias que vieram com os negros e os imigrantes - que a gente guarda e planta novamente, destinada a nossa alimentação, que levou centenas de anos para chegar a este estágio palatável. Nosso trabalho principal é o resgate daquelas que pode estar sumindo”, explica o agricultor Amilton Fernando Munari, 50 anos, que participa da Expointer há 21 anos, antes mesmo da criação da Feira da Agricultura Familiar.

A Associação Içara, de Maquiné, no Litoral Norte, reúne 10 famílias – entre agricultores, panificadores, coletores, artesãos e pequenos empreendedores do turismo rural –, gerando sustento para mais de 30 pessoas e desenvolvendo ações educativas e ambientais nas propriedades e nas escolas da região.

“A gente ensina a tecnologia das sementes e a maneira de plantar em um sistema agroflorestal, onde tem plantas companheiras, como as frutas nativas. Tudo isso a Associação Içara faz. Planta para vender, planta para comer e planta para trocar”, esclarece o agricultor.

A venda na banca aumentou 30% em relação ao último ano, comercializando meia tonelada de mudas e sementes, sendo 150 quilos somente de milho crioulo. “Pelo interesse das pessoas, a gente calcula que a venda deve crescer 100% nos próximos 3 a 4 anos”, prevê.

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