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Concurso escolhe melhor velo industrial

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VI Concurso Melhor Velo Industrial realizado na Expointer
VI Concurso Melhor Velo Industrial realizado na Expointer - Foto: Eduardo Patron/Ascom Seapi
“Quando é tempo de tosquia
já clareia o dia com outro sabor…”


Telmo de Lima Freitas

Os dias 29 e 30 de agosto foram especiais para criadores de ovinos de raças com aptidão laneira no Rio Grande do Sul. As Associações Brasileiras de Criadores de Ideal, Corriedale e Merino Australiano promoveram o Concurso Melhor Velo Industrial no Pavilhão de Ovinos da 46ª Expointer. Participaram 10 animais Corriedale, 9 Merinos Australianos e 34 Ideal, entre machos e fêmeas. Eles foram julgados pelos membros do Secretariado Uruguaio da Lã, José Luiz Trifoglio e D’Jalma Puppo, que analisam o produto, desde o método de esquila até detalhes como peso, comprimento, finura e rendimento após lavado. Conforme os organizadores, a ideia é focar na qualidade, aumentando o volume de lã por animal, nos parâmetros desejados pela indústria têxtil.

Enquanto os ovinos iam sendo tosquiados um a um pelo método australiano de esquila “Tally-Hi”, que evita a amarração dos animais para o procedimento, e avaliados, uma mesa-redonda foi formada com representantes das associações de criadores, técnicos e especialistas. Eles debateram o tema “Acondicionamento e Medidas Objetivas das Lãs – na busca da Excelência”. A organização foi da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco) e da Comissão de Ovinos da Farsul.

Concurso de Velo Industrial analisa diversos itens como peso, comprimento, finura e rendimento após lavado
Concurso de Velo Industrial analisa diversos itens como peso, comprimento, finura e rendimento após lavado - Foto: Thaís D'Ávila/Ascom Concurso

O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ideal, Milton Fernandes, contou que é a sexta edição do concurso, mas a primeira vez que é realizado em conjunto, devido ao patrocínio do Senar/RS. “A raça Ideal foi a precursora. Antes cada raça fazia separadamente”. Segundo ele, a ideia surgiu porque os criadores precisavam ter as medidas objetivas da lã. Cerca de uma semana antes do concurso, são coletadas amostras dos animais e enviadas ao Secretariado Uruguaio da Lã”, esclareceu.

“Quanto mais fina a lã, mais valorizada ela é. Para essas, o mercado tem uma boa fluência. Lã Merina e Ideal são as mais usadas em alta costura. As lãs mais fortes, mais grossas estão com dificuldade de comercialização”, disse Fernandes.

Para o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Corriedale, Fernando Petruzzi, o concurso mostra a busca por uma melhora da lã. “Queremos valorizar nosso produto, que vive um momento delicado. Para isso, também estamos trabalhando com o selo de Certificação da Lã Gaúcha, da Arco. Isso facilita a nossa entrada no mercado internacional”. Segundo o criador, hoje toda a lã produzida no Rio Grande do Sul é exportada para o Uruguai.

“O Corriedale é o maior rebanho do Rio Grande do Sul, quase 60% do rebanho gaúcho”, afirmou Petruzzi. A lã Corriedale não é tão fina, mas produz roupas, cobertores, tecidos, mantas. E o trabalho hoje é para afinar cada vez mais o produto”.

A premiação é em dinheiro. Cada vencedor, de cada raça, ganha US$ 800 (cerca de R$ 3.880) pelo macho e US$ 400 (cerca de R$ 1.940) pela fêmea. Para participarem do concurso, os animais são esquilados há um ano e novamente no dia.

Cassyana Comis, pres. Associação Brasileira dos Criadores de Merino Australiano com os jurados uruguaios
Cassyana Comis, pres. Associação Brasileira dos Criadores de Merino Australiano com os jurados uruguaios - Foto: Eduardo Patron/Ascom Seapi

Para a presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Merino Australiano, Cassyana Costa Comis, que também é criadora em Uruguaiana, o concurso é muito importante para os produtores e tem ganhado maior envolvimento a cada ano. “É um momento de muita aprendizagem. Os jurados uruguaios nos ensinam o que devemos fazer para melhorar nossa lã, o que a indústria valoriza e precisa”.

Ela explicou que a Merino Australiano é a raça-mãe de todas as raças de ovelhas. “Isso significa que na genética das outras existe gene da Merino Australiano, que tem uma grande rusticidade, uma enorme capacidade de se adaptar às variadas condições climáticas”. Outra característica, de acordo com Cassyana, é que a lã é a mais nobre de todas. “É fina, usada pela indústria para vestuário de alta qualidade e alto valor”, destacou.

Ela ainda falou sobre a necessidade de mudança de postura em relação à tosquia. “Faz parte da cultura gaúcha a tosquia tradicional, onde não existe a separação, a qualificação e muito menos um cuidado diferenciado com o armazenamento dessa lã, sem falar que causa estresse nos animais”, pontuou Cassyana.

tosquia ‘Tally-Hi’, que preza o bem-estar animal e a qualidade do velo
Tosquia ‘Tally-Hi’, que preza o bem-estar animal e a qualidade do velo - Foto: Eduardo Patron/Ascom Seapi

“Hoje, a lã está voltando a ser um negócio lucrativo. E a Arco lançou o Programa de Certificação da Lã, cuja ideia é que os criadores entendam a necessidade de mudar o manejo dos animais e da nossa lã, fazendo com que a tosquia, passe a ser uma . Com ela, o velo sai inteiro e com uma qualidade melhor”, garantiu. 

O produtor familiar de 500 ovinos da raça Ideal, Renato Carpes da Costa, da Cabanha Vale do Camoaty, de Uruguaiana, participou com um exemplar, o macho dente de leite Apolo, que não ganhou o Velo, mas conquistou o prêmio de Campeão Borrego Menor e Reservado Grande Campeão. “Esse cordeiro já nasceu espetacular. Nasceu à tardinha, vai fazer um ano no dia primeiro de setembro, em plena feira”, contou com orgulho. Segundo Costa, o animal pesa 95 quilos, tem lã fina (20.8 micras), que é usada em alta costura, como ternos, blusões, entre outros utensílios.

“A gente trabalha com genética, com sonhos. Desde o acasalamento, já é pensado o produto final. Sempre temos a expectativa do sonho. Desde que eles são pequenos, são acompanhados e vemos quais se desenvolvem melhor. Procuramos deixar os animais em condições as mais naturais possíveis. São criados a pasto, a gente não deixa tomar chuva, dormem em galpões, e têm uma suplementação uma vez ao dia”, contou Costa.

“Cerca de dois meses antes da Expointer, a gente já escolhe os exemplares que vão vir para a feira. Aí eles já não ficam tão soltos, mas ainda vão para o campo. A suplementação é com grão de aveia, eles comem pouca ração. Mais perto da feira, acrescentamos um pouco de ração também na alimentação”, detalhou.

Vencedores

A criadora de ovinos Corriedale, da Cabanha Vista Alegre, de Pedras Altas, vice-presidente da Arco e coordenadora da Comissão de Ovinos da Farsul, Elisabeth Lemos, participou com 4 exemplares (três fêmeas e um macho). Venceu com a fêmea FKL Letícia Cond da Felicidade 2473, de 1 ano e com 98 quilos; e com o macho FKL Filho M da Felicidade 2415, de dois anos e pesando 119 quilos.

Elisabeth Lemos, de Pedras Altas, venceu nas categorias macho e fêmea da raça Corriedade
Elisabeth Lemos, de Pedras Altas, venceu nas categorias macho e fêmea da raça Corriedade - Foto: Eduardo Patron/Ascom Seapi

“Esse concurso é muito interessante, porque a gente vê objetivamente o que está sendo produzido na cabanha. Hoje o mercado procura lãs mais finas. O Corriedale normalmente é lã média e exige uma preocupação da associação de trabalhar com as finuras mais baixas dentro do padrão da raça”, pontuou Beth, como é chamada.

“Nossa criação começou em 1972, há mais de 50 anos, com meu marido. Eu era extremamente urbana. Hoje tomo conta confortavelmente, porque aprendi com ele e com meu sogro. São 300 fêmeas em reprodução e cinco carneiros que uso no plantel. Eles não têm nomes carinhosos, mas a gente conhece. É a 2414, o 2415 e por aí vai”.

O produtor Manoel Zirbes, da Cabanha Santa Camila, de Alegrete, venceu o concurso da raça Merino Australiano com o carneiro Camila 3319, que tem dois anos e pesa 146 quilos; e com a ovelha Camila 2710, também de dois anos e pesa 113 quilos. Ele ganhou como prêmio US$ 800 pelo macho e US$ 400 pela fêmea. Os dois ainda conquistaram o título de Grande Campeão e Grande Campeã da Expointer.

“É um prêmio que comprova que esses animais não são só para pista, são exemplares que produzem lã de qualidade e com bastante volume e nos mostra o caminho para seguirmos com nosso trabalho em genética”.

Da Raça Ideal, venceu a fêmea Burity 3270, da Cabanha Escondida, de Alegrete. O proprietário Vinícius Freitas disse que ela tem 13 meses de idade e pesa 84 quilos. “Além do melhor velo industrial, ela conquistou ainda os prêmios de Campeã Cordeira e Grande Campeã, e de melhor velo de pista”, destacou Freitas.

Veja como ficou a precificação da lã e os vencedores de cada raça:

Machos (peso de lã/preço total)

Fêmeas (peso de lã/preço total)

Merino Australiano

10,60 quilos – US$ 63,63

10,20 quilos – US$ 58,33

Corriedale

8,9 quilos – US$ 10,53

8,2 quilos – US$ 9,67

Ideal

8,2 quilos – US$ 55,80

7,90 quilos – US$ 40,42

Vinícius Guedes, de Alegrete, um dos campeões do concurso
Vinícius Guedes Freitas (de chapéu, no meio), de Alegrete, um dos campeões do concurso - Foto: Eduardo Patron/Ascom Seapi

Texto: Darlene Silveira/Ascom Expointer
Edição: Maria Alice Lussani/Ascom Expointer

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